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domingo, 9 de outubro de 2011

excelente reportagem

TEATRO

Pesquisa contínua

Publicado em 9 de outubro de 2011
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Michel Fernandes: "Sou respeitado por ser sincero. Se não gosto, explico com clareza o porquê
ALEXANDRE PERREROCA / DIVULGAÇÃO
Há uma década, o ator e dramaturgo Michel Fernandes deixou a prática dos palcos para um literário mergulho na profundidade nos espetáculos teatrais. Crítico de teatro do Último Segundo e do site Aplauso Brasil, ambos do portal iG, Michel revela seu princípio básico: "Não sou o dono da verdade"

O paulista de Santo André formou-se ator aos 19 anos, no Teatro-Escola Célia Helena. A convite da atriz Célia Helena, Michel passou a fazer parte de um grupo de estudos em dramaturgia, chamado Núcleo dos Dez.

Nele, conheceu alguns jornalistas e tomou gosto pela ideia de cursar jornalismo. Em 1999, formou-se em Comunicação Social e foi indicado por seu orientador a Leão Serva, então diretor do iG. Em fevereiro de 2000, iniciou sua carreira como crítico de teatro do portal.

No entanto, Michel levou um ano para, de fato, assinar como crítico. Não por trâmites da empresa ou coisa parecida, mas por uma escolha pessoal. "Eu achava que ainda era muito cru. Tinha uma formação prática e teórica de teatro, pelas aulas no Teatro-Escola, trabalhei como assistente de direção, mas não tinha muito repertório", explica. Somente após participar, de fato, da vida teatral da cidade de São Paulo, indo a mostras, festivais, e assistindo a vários espetáculos, sentiu-se à vontade para intitular-se crítico.

Em 2002, o iG lança o site Aplauso Brasil, para o qual escreve até hoje. Nele, Michel comenta sobre as principais estreias nacionais e internacionais. Para ele, escrever para teatro exige, sim, alguns pré-requisitos.

Além do conhecimento teórico, é preciso ser uma "pessoa do teatro": conhecer as companhias, assistir aos espetáculos, não perder as mostras. "O mais importante, nesse aspecto, é ter curiosidade. Vontade de aprender. Além do espetáculo, você vai entrevistando pessoas e elas também vão perceber que estão falando com alguém que entende de teoria. Isso torna o diálogo mais interessante", defende.

Crítica
Sobre a análise dos trabalhos propriamente, Michel destaca uma prioridade: "Ter muito respeito a compreensão do processo teatral". Segundo ele, nunca se deve olhar apenas o andamento do espetáculo, a partir do abrir das cortinas, mas pensar sobre sua produção.

"Não posso comparar uma franquia de um espetáculo norte-americano com um trabalho de uma companhia menor, de produção praticamente artesanal, por exemplo. São duas coisas distintas. Então, ainda que eu não goste de tratar das questões políticas de um trabalho (os valores, por exemplo), o que se passa nos bastidores interfere no que vemos sobre o palco", comenta.

Além disso, o crítico dá dicas importantes: ir sempre "desarmado", sem preconceitos. Estar disposto a perceber aonde o diretor quis chegar. Observar o espetáculo como um conjunto e, posteriormente, percebê-lo em separado: atores, texto, cenário, figurino, iluminação, sonoplastia. E na hora de pôr a avaliação no papel, um cuidado que se adquire com o exercício - ser o mais claro possível.

"Nesses dez anos de crítica, consegui um respeito muito bom das pessoas exatamente por isso, porque sou muito sincero, muito claro. Se digo que não gosto, explico o porquê; se gosto, do mesmo jeito. Procuro analisar da melhor maneira possível, dentro do meu limite, do que eu acho", revela Michel.

O jornalista recebe diversas opiniões de leitores a cada crítica, inclusive de atores e produtores do espetáculo citado. Michel parece tranquilo ao tratar do assunto. Seu procedimento, em geral, é tentar não desvalorizar uma peça sem antes, de fato, buscar seus pontos fortes.

"É muito raro eu falar mal de um espetáculo. Se for o caso, procuro conversar com a pessoa e tirar minhas dúvidas, antes de qualquer coisa. Sempre deixo claro que minha palavra não é a última. Um crítico mais polêmico, ataca de uma maneira grosseira, acaba criticando a pessoa, o artista, não o trabalho em si. Isso não é maneira de criticar. Meu princípio básico é: não sou o dono da verdade", ressalta.

Pensando sobre o cenário nacional atual, para o crítico dois são os pilares do teatro: Zé Celso Martinez, do Teatro Oficina, e Antunes Filho, pertencente à primeira geração de grandes nomes do teatro brasileiro, criador do CPT - Centro de Pesquisas Teatrais. O respeito por ambos advém não só do tempo de amizade que possuem, mas da pesquisa constante exercida nos trabalhos dos dramaturgos. "Tanto Celso quanto Antunes estão sempre estudando. Não param de pensar coisas novas. Eles não se acomodaram", argumenta. Outro nome destacado por ele é o mineiro Gabriel Villela, que recentemente dirigiu "Crônica da Casa Assassinada", considerado por Michel uma obra-prima do teatro.

Pesquisa
Em uma década de crítica, um dos mais frequentes exercícios de Michel certamente foi a pesquisa. Os estudos iniciados no Núcleo dos Dez, vêm se mantendo presentes por toda a carreira. Entre 2007 e 2008, venceu dois prêmios de pesquisa. O primeiro para financiar o estudo "Investigando a Dança das Diferenças", e o segundo, o Prêmio Pesquisador, que contemplou sua pesquisa sobre Zé Celso e Antunes Filho.

Atualmente, Michel anuncia que irá fazer uma pós-graduação em Direção Teatral. "Não tenho nenhuma pretensão de dirigir um espetáculo, mas quero fazer o curso porque entendi que é muito importante continuar estudando", afirma. Para quem pretende partir para um estudo mais aprofundado em teatro, Michel indica dois autores em especial: o brasileiro Sabato Magaldi e o francês Jean Jacques Roubine.

Bibliografia básica
Panorama do Teatro Brasileiro, de Sabato Magaldi (2004), Global Editora, 328 páginas . R$ 49
Teatro em Foco, de Sabato Magaldi (2008), Editora Perspectiva, 155 páginas - R$ 38
Depois do Espetáculo, de Sabato Magaldi (2003), Editora Perspectiva, 342 páginas - R$ 51
A Arte do Ator, de Jean Jacques Roubine (2011), Zahar, 116 páginas - R$ 32
A Linguagem da Encenação Teatral, de Jean Jacques Roubine (1998), Zahar, 240 páginas - R$ 43
Introdução às Grandes Teorias do Teatro, de Jean-Jacques Roubine (2003), Zahar, 228 páginas - R$ 46

Mayara de Araújo
Repórter

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